Vamos fingir que não é o fim do mundo

Gustô Alves, em um alto otimismo pessimista, comenta os últimos acontecimentos.

Nesta semana, a Miley Cyrus lançou sua nova faixa que, embora pareça um synth-pop reluzente direto dos anos 80/90, é até divertida — e já chega anunciando o apocalipse. Sem surtos paranóicos ou profecias catastróficas, só um singelo convite tipo ‘e aí, vamos tomar um chopp antes de tudo desabar?’ Irresistivelmente convidativo. (Esse texto não é uma crítica.)

Eu ando vivendo nesse modo ‘YOLO’ total, como se cada notificação do celular já fosse um spoiler do meu próximo story no fim do mundo. MAs últimas decisões mais importantes da minha vida eu tomei na base do foda-se. Não me dei o direito nem de dois segundos de raciocínio, zero tempo gasto em análise SWOT — se eu pensasse mais, simplesmente voltaria atrás.

E olha só que graça da vida moderna: daqui a alguns meses estarei trocando de continente e, porque minha vida não estava boa o bastante, resolvi me enfiar num relacionamento de utilidade sentimental, só pra eu me apegar a alguém e sofrer antes de ir embora, coisa que eu explicitamente disse que eu não faria.

E tá tudo bem. Novamente: é o fim do mundo, lembra? Eu estou muito otimista no meu pessimismo. O mundo vai acabar e não tem nada que eu possa fazer a respeito. Não vai ser o meu canudinho de metal que vai salvar a natureza enquanto as indústrias de alimentos e entretenimento se unem alegremente para nos foder em grande escala.

Dois quilos de carne e uma tese em I.A gastam mais água que meu banho de 20 minutos, me deixa em paz.

O planeta está esquentando, o presidente lunático dos Estados Unidos assina uma nova lei fascista a cada frase que eu digito, e a Lady Gaga está no Rio de Janeiro. Incluí esse último ponto porque, obviamente, a Direita brasileira já decidiu que ela é o prenúncio do anticristo — e aqui nesta coluna, a gente não julga: somos inclusivos até com o delírio político.

Mas, pensando bem, acho que é o contrário. Só nessas poucas horas de Lady Gaga em solo brasileiro, o nosso impávido colosso já tremeu. Nikolas Ferreira foi condenado a pagar R$ 200 mil por danos morais coletivos após um discurso transfóbico na Câmara dos Deputados (punição controversa). Luva de Pedreiro perdeu um processo e terá que desembolsar mais de R$ 5 milhões ao seu ex-empresário por quebra de contrato. O Pix Pensão sofreu avanço na Câmara, surgiram rumores sobre a nova camisa da Seleção e até o Pastor Mirim levou um APAVORO do Conselho Tutelar e foi proibido de pregar e usar redes sociais. Uma sequência impecável. Eu diria: só vitória.

Eu, sinceramente, se fosse o Anticristo, não voltaria pra esse caos. Vocês já deram uma olhada na crescente direita global? Não era assim que eu imaginava a minha vida adulta — cadê a alta tecnologia e a possibilidade real de comprar uma casa? Estou aqui lidando com fascismo institucionalizado em 2025. Gente, a gente já derrotou esse povo lá em 1945, pera aí!

Tanta coisa acontecendo, tanto maluco solto por aí, e a grande preocupação da política nacional é se a porra da camisa da Seleção vai ser vermelha? “Ah, porque as cores nacionais são verde e amarelo! Nossa camisa jamais será vermelha!” GENTE KSKSKSKSKS VOCÊS SABEM DE ONDE VEM O NOME DO PAÍS DE VOCÊS? PARA.

O nome “Brasil” vem de uma árvore vermelha. Vermelha. O país foi batizado por causa de um tronco tingido, literalmente. Então me poupem dessa indignação seletiva e vão ler um panfleto histórico antes de passar vergonha em rede nacional. Mico.

e pô… ela tá bonitinha.

A Seleção Brasileira já usou vermelho, sim — uma vez há muito tempo e outra num amistoso em 1937. Eu não vou checar a fonte porque já gravei um vídeo sobre isso pra minha empresa, e ele pode (ou não) estar no meu perfil do Instagram (@ogustoalves). Estou dizendo isso porque a narrativa da direita nunca foi coerente — nunca. E isso me irrita. Tanta coisa acontecendo, tanta merda real pra se preocupar… e o surto coletivo é com a cor de uma camisa.

Que a direita é maluca a gente já sabe. Eles veneram um país que nem considera o “salvador” deles como santo, digamos assim. Aplaudem uma criança respondendo “meu pastor é Jesus” com um “TÁ AMARRADO!” KKKKKKKKKKKK Não tem como levar esse povo a sério.

Apesar de ser uma crentalhada sem igual, a verdade é que a direita odeia Jesus. E eu não tô aqui pra impor fé em ninguém, longe de mim: tenho uns 10% de religião no corpo, e isso já é o bastante. Desde que ganhei um escapulário de Maria de Nazaré da minha mãe, o algoritmo do TikTok decidiu que eu sou seminarista. É missa, terço e aparição em HD toda vez que eu abro o app. O Mistério da Fé em 30s.

E quem diria que o catolicismo — logo ele — seria a solução dos nossos problemas? Pois é. Temos o padre Júlio Lancelotti na linha de frente, protegendo minorias com mais dignidade e coragem do que muito político eleito. Enquanto isso, o “pastor mirim” tá por aí soltando absurdos, e me recuso a abrir qualquer vídeo desse garoto falando. Minha saúde mental tem limite. Eu levei dias pra entender o meme do “THE KING THE POWER não-sei-o-quê” e ainda não tenho certeza se valeu a pena.

Mas vou te dizer: no fundo, eu até gosto quando esses assuntos viram o surto da vez pra direita. Acho que a gente devia fazer mais isso. Troca a bandeira, pinta de rosa, bota mais artista viado no Cristo Redentor, chama a Lady Gaga de novo, bora falar da bolsa de cocô do Bolsonaro só pra ver eles espumarem. Porque, enquanto eles estão ocupados surtando com camiseta vermelha e coreografia de TikTok, os nazipolíticos e os falsos profetas ficam distraídos — e dá mais tempo pro outro lado trabalhar, conquistar uns direitos, respirar. É quase uma estratégia de guerra. E eu tô achando fascinante.

Enquanto a direita tá ocupada surtando com a Lady Gaga no Cristo e com uma possível camisa vermelha da Seleção, Erika Hilton segue firme, fazendo o que político sério faz: trabalhando. Ela já protocolou na Câmara dos Deputados a PEC que visa acabar com a escala 6×1 — aquela que nos rouba os domingos e a sanidade. Agora o texto vai seguir para a CCJ, e depois disso, bom, você pode conferir o resto do trâmite em outro vídeo no meu Instagram (@ogustoalves), que a gente postou meses atrás. Fica à vontade, o conteúdo é de graça e a indignação é sempre atualizada.

Obrigado, mãe.

Eu vou ficando por aqui. Leia esse outro texto. Divirta-se!: os ilustres memes da direita, uma pinacoteca de ódio

Até a próxima hecatombe.


Sugestão de Música!

A inspiração desse texto!


criei essa newsletter pra alimentar um hobbie. Não me siga nas redes sociais que por acaso é @ogustoalves.

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