REVIEW: ‘Esquinas’, novo disco de ANAVITÓRIA, é uma facada carinhosa

Comemorando 10 anos de carreira da dupla, o álbum flerta com o desejo de amar e afaga o coração recém-partido

Lançado na madrugada desta quinta-feira (12), o novo disco da dupla ANAVITÓRIA, formada por Ana Caetano e Vitória Falcão, traz doze faixas recheadas de paixão, vocais, melodias e uma bateria que te transporta pra dentro do seu coração. ‘Esquinas’ é o quinto álbum de estúdio da dupla e já pode se consagrar Melhor MPB do Ano nas próximas premiações. Creio que pode até render mais um Grammy Latino para as meninas.

COR‘, álbum que antecede o recém lançado, ganhou o Grammy Latino de Melhor Álbum de Pop Contemporâneo Brasileiro em 2021. As duas obras têm sonoridades muito parecidas, tal como irmãs, com uma musicalidade semelhante se comparar os instrumentos e estilo de produção e composição. Não seria arriscado dizer que elas têm uma grande chance de levar o prêmio novamente.

Ana Caetano e Vitória Falcão
A dupla ANAVITÓRIA acumula 4 Grammy Latinos, 2 Prêmio NOVABRASIL e 1 WME Awards | Foto: Redes Sociais/Twitter @oanavitoria

Superando expectativas e trazendo apenas um featuring, o disco é emocionalmente inteligente, diferente da obra anterior que, muitas vezes, implora para um amor ficar e exige que grite o nome delas. Mais maduras e mais apaixonadas, ‘Esquinas’ aceita as vitórias, derrotas e intempéries de um relacionamento. Se terminam, apesar de sofrerem, a dupla canta:

Sei que somos ensinados que no fim da história
A melhor escolha é matar o outro em vida

– Mesma trama, mesmo frio | ANAVITÓRIA

Essa é a aceitação do fim enquanto se tortura para suprir o que o mundo exige: a morte do amor que morreu. Em tempos de internet, autoestima vendida em vídeos 9:16 e supervulgaridade; não há nada mais condenável do que manter contato e conversar com ex, afinal, se fosse bom, não seria ex. 

Mas elas lutam contra esses conceitos de queimar antigas relações junto com as memórias de um finado amor. Ana e Vitória tratam esse fim de relacionamento com tanto carinho que dá vontade de começar a namorar só pra terminar e ouvir essas músicas com mais propriedade.  

Apesar de acabado, ainda que o tempo esteja passando e levando-as para novos encontros e novas pessoas, Ana e Vitória evocam o sentimento de conforto em saber que alguém, em algum lugar, conhece seus detalhes – trejeitos, alma, essência, virtudes e defeitos – guardando-os com afeto.

Se eu puder ter um pedido a mais / Guarde o melhor que tivemos
As confidências, mesmo que banais / Eu deixo em segredo
Nem todo mundo tem a sorte que nós dois tivemos juntos
E é tão bom saber que alguém que me conhece assim tão bem existe

– Água-viva | ANAVITÓRIA

Este é apenas um dos vários pedidos, solenes e desesperados, para preservar aquilo que foi intenso, ainda que finado. Diversas figuras apresentadas na obra simbolizam não só a paixão, mas conflitos que estão presentes num amor real. Deixar que tudo isso caisse no vale do esquecimento seria uma das mais crueis traições, contra si, a pessoa e a história vivida.

O álbum conta com mais de 23,1 mil posts no X/Twitter, integrando os Assuntos do Momento Foto: Redes Sociais/Twitter @oanavitoria

Em entrevista para à Veja São Paulo, Ana declara:

“É muito claro que gosto de escrever sobre relacionamentos. A primeira faixa fala sobre as probabilidades que a cabeça cria quando começa a devanear, sobre o que a vida poderia ter sido”.

E essa não é a única. Além de ‘Se eu usasse sapato’, as faixas ‘Ter o coração no chão’, ‘Eu, você, ele e ela’ e ‘Quero contar pra São Paulo’ são músicas que pedem, de coração aberto e em chamas, para amar. ‘Esquinas’ é cheio de súplicas pelo amor, pois sabem que ele, em sua forma verdadeira, é raro. As músicas trazem um desejo melancólico pelo sentimento, ansiando o sentir das formas mais intensas que nosso peito permite.

Se Ana e Vitória estão solteiras, elas não querem. Essas mulheres querem ter uma paixão tão intensa que seriam capazes de ancorar navios no ar. E não querem só as facilidades, elas querem o desafio e um puxão para fora da zona de conforto, pois seus amados (ou amadas) estão presentes nos desejos mais íntimos e sonhos mais secretos.

E claro, não só de amor romântico vive a dupla, Vitória conta que os devaneios também referenciam encontros fraternos. “Como, por exemplo, o que teria sido se nós nunca tivéssemos nos encontrada na casa de uma amiga para gravar um vídeo cover de não sei o quê”.

A gente tá sempre, de alguma maneira, buscando um lugar pra ir numa atenção ao próximo passo

– Vitória em ‘Navio ancorado no ar’ | ANAVITÓRIA

O quinto de uma grande discografia

Separados por uma homenagem a Nando Reis, as duas eras das artistas são bem definidas, tanto em questão de maturidade pessoal quanto musical da dupla. A melosidade e a doçura, características dos álbuns ‘ANAVITÓRIA‘ e ‘O Tempo É Agora‘, hoje dividem o protagonismo com o sentimentos de pertencimento e discernimento sentimental.

Uma das grandes expectativas de ‘Esquina’ era a participação do compositor uruguaio Jorge Drexler, que já teve trabalhos com Caetano Veloso, Marisa Monte e Ney Matogrosso. Jorge gosta de misturar música latina, o pop e o folk enquanto ingesta arranjos sostificados e poesia pura nas letras em que contribui.

O compositor já participou de uma música com as meninas. O single ‘Lisboa-Madrid‘ é uma regravação em espanhol da música ‘Lisboa’, que fecha o álbum COR. Agora, Jorge Drexler participa da terceira faixa, ‘Não sinto nada’.

‘Esquina’ é lançado quatro anos após ‘COR’, sendo o maior intervalo artístico entre as obras da dupla | Imagem: Spotify

Apesar de serem do Tocantins, existe um ‘quê’ de Rio de Janeiro na produção, talvez pela escolha de instrumentos usados ou pela sonoridade na voz das nortistas mais amadas da Nova MPB. Algumas composições são assinadas por Pedro Calais, vocalista da banda Lagum e amigo da dupla. A produção do disco é assinada por Ana Caetano, Pegê e Janluska; com colaboração em algumas faixas de Iuri Rio Branco, João Ferreira e Gabriel Duarte Mendes. 

Em ‘COR’, as artistas arriscam uma declaração não cantada na primeira faixa do disco. Aqui, elas usam essa ferramenta novamente e disfarçam muitos momentos com falas e sons não musicais, atributo clássico do crescente estilo musical bedroom pop.

‘Esquinas’ traz o que as ANAVITÓRIA fazem de melhor: falar do amor, das várias formas e momentos de amar. As composições da Ana são sempre absolutas, não há erro, nem quando alguns versos não rimam. Até a música, por mais bonita que seja, pode tropeçar no ímpar – como o amor. Vitória tem a voz mais potente; é ela que dá sustância ao disco, te carregando mais longe, enquanto Ana carrega com mais carinho. Elas são a combinação perfeita, sempre foram e sempre serão.

Escute o disco


Veja a tracklist do álbum ‘Esquinas’ de ANAVITÓRIA

  1. Se eu usasse sapato
  2. Minto pra quem perguntar
  3. Não sinto nada
  4. Ter o coração no chão
  5. Ponta solta
  6. Espetáculo estranho
  7. Água-viva
  8. Eu, você, ele e ela
  9. Mesma trama, mesmo frio
  10. Quero contar pra São Paulo
  11. Doce futuro
  12. Navio ancorado no ar

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