Finalmente, um relato! Se você ainda não está familiarizado, o nome desta coluna é “Opiniões e Relatos que ninguém pediu” por Gustô Alves. Eu! Eu sou Gustô Alves, prazer!
Dos sete textos que escrevi até agora, sete são opiniões. Ou seja, já passou da hora de entregar um relato. Permita-me contar um, então. Posso? Você deixa? Ótimo.
Em 2019, com 17 anos e aquela inocência juvenil que nos faz achar que o futuro é uma linha reta, fiz uma lista de metas para os próximos 5 anos. Nada exagerado, uns 7 ou 10 objetivos que pareciam realistas e completamente ao meu alcance. Mas eu sou uma pessoa complicada e não cumpri quase nenhum.
Infelizmente, eu não tenho mais essa lista. Ela foi deletada na última limpa que fiz no meu bloco de notas, a clássica ‘queima de arquivo’. Mas eu lembro cada uma das metas que eu tinha definido, porque sou muito bom em reconhecer e me lembrar constantemente dos meus próprios fracassos. É um talento meu, obrigado.
Em 2019, os planos para minha vida em 5 anos eram:
- Aprender mais um idioma
- Ter um relacionamento estável e sério
- Aprender a tocar violão
- Escrever todas as minhas fanfics e livros
- Fazer um intercâmbio
- Conseguir um diploma
- Aprimorar meu físico para ter um corpo bonito
- Fazer terapia
- Redecorar meu quarto
Eu acho que era isso. Os dois últimos podem ser apenas deduções do que eu queria aos 17 anos e, agora, recém-23, tenho um parâmetro legal do que alcancei e do que não fiz o mínimo esforço para alcançar. Esse é o texto de hoje. Vamos contemplar o meu fracasso. Sente-se no sofá, faça um cafezinho e sinta-se à vontade.

Aprender mais um idioma
Fracasso. Esse eu posso alegar, se eu forçar muito, que tentei. Em 2019 mesmo, eu queria aprender francês, fui atrás da escola e quase me matriculei, antes de ser injustamente proibido pelo meu pai de fazer a aula por algum motivo imbecil que a raiva suprimiu. Desde então, o Duolingo tem sido meu parceiro no aprendizado.
O problema é que, com a morte do Ensino Médio e o passar dos anos, o meu brilho no olhar com relação ao aprendizado se apagou. Nunca fui fã de escola; eu preferia passar a aula inteira conversando do que sentar para fazer conta ou achar o apêndice de um peixe. Não que eu fosse um aluno negligente, longe de mim: meu boletim era só nota azul, se desconsiderarmos qualquer matéria de exatas.
Em algum momento, entre 2022 e 2023, comecei a invadir as aulas de francês no curso de Filosofia do meu melhor amigo. Ainda bem que sou uma pessoa muito carismática, porque o professor, um hippie comunista revolucionário francês, me adorou. Eu fui incluído na aula online, fazia as tarefas até que cansei de ir. Se nada me obrigar a ir à aula, se nada me der nota que tenha o poder de mudar meu destino como reprovar na matéria, eu não vou. Eventualmente, deixei de ir às aulas.
Este ano – 2024, caso você esteja lendo isso no futuro – eu ainda tentei aprender italiano no Duolingo, uma vez que minha compreensão de francês se estende apenas a contar até 100 e saber o som de cada letra. Não deu certo. Cansei no momento em que senti que era um fardo receber notificação do Duo me enchendo o saco.
Sigo falando português, inglês e viadagens por aí. Para mim, é o suficiente.
Ter um relacionamento sério e estável
Cômico. Depois do meu último relacionamento com meu ilustre e queridíssimo ex (nov.2019 – mai.2020), tive exatas QUINZE tentativas de começar um relacionamento. Eu possuo uma lista no meu bloco de notas com os nomes deles para eu me forçar a nunca esquecer por que dei um pé na bunda de cada um, sendo que dois deram um pé na bunda em mim.

Para continuar, vou dar nome aos bois. Pode ser o real, pode não ser – vocês jamais saberão.
Um deles, o Luís, que meus amigos detestam, era super inconveniente. Até aí tudo bem, eu também sou meio inconveniente na metade do tempo. A diferença é que meus amigos já gostam de mim. O Luís eles não conheciam, e sinceramente, eu também não. Além de ele ter ido dormir na casa de uma amiga minha sem meu consentimento (só porque minha amiga não sabe dizer não), ele ficou fuçando a cozinha da casa dela, atiçando gatilhos na família e atrapalhando nosso jogo.
Mas não foi por isso que terminei. Eu terminei porque ele era alcoólatra, abertamente alcoólatra, e achava muito legal e divertido ser. Nada contra o alcoolismo – cada um com sua doença psicocomportamental –, mas vá ser alcoólatra lá na sua casa.
Ele não foi o único com algum problema que podia, mas não queria tratar. Na minha coleção também tenho ex-ficante-depressivo, ex-ficante-borderline e ex-ficante-mal-caráter. Não repito figurinha.
E eu sou uma pessoa chata para me relacionar. Eu me canso rápido. Mas, recentemente, minha amiga Carol me deu um diagnóstico:

Então, por favor, se você quiser me beijar, é só me dar mole e depois começar a me ignorar. Estou solteiro e disponível todo dia da semana em qualquer horário.
Aprender a tocar violão
Esse entra na caixinha “Eu odeio estudar”. Eu não tenho força de vontade e concentração o suficiente para me ensinar alguma coisa sem que ela tenha uma consequência negativa direta na minha vida. Tudo que é opcional, eu me poupo.
Como você deve suspeitar, eu não sei tocar violão. Quem sabe um dia.
Escrever todas as minhas fanfics e livros
Gentileza minha. Aqui eu fui muito gentil comigo e confiante no meu potencial. Não é como se a parte que eu mais odeio do processo de criação de uma história/livro fosse escrever de fato. Minha mão sangra toda vez que eu tenho que colocar em palavras o que eu crio na minha cabeça.
Sem querer me gabar, minhas histórias são boas, eu só não tenho capacidade cognitiva de colocá-las no papel. O processo de criar que vemos no TikTok, que a Camila Veloso ensina, não funciona pra mim. E eu tentei. A Gangue das Babás está parado até agora no capítulo cinco.
Então achar que eu ia escrever no mínimo 30 obras em 5 anos era pedir demais para o meu eu jovem adulto. Mas nem tudo é derrota, eu escrevi 1 (um) livro.

Peregrino foi um surto. Tanto que eu tirei ele do ar após um ano de flop e 20 reais na minha conta. Tudo bem, acontece. Mas ele volta, provavelmente ano que vem, quando eu tiver tempo, disposição e dinheiro para re-editar, re-diagramar, pagar outro ISBN, ficha catalográfica e uma nova capa.
A sequência eu comecei a escrever, mas passou tanto tempo que a dedicatória nem faz mais sentido. Então tá aí outra coisa pra eu me preocupar.
Esse livro seria dedicado a uma antiga amiga.
ela esperou muito por essa continuação
e ela me apoiou muito para escrever,
mas ela me traiu como nunca antes.
e minha boca se enche de chorume ao falar seu nome;
e meus dedos necrosam se eu ousar escrevê-lo
sua desgraçada.
Então, esse livro não é para ela. É para minha antiga professora de biologia. Outra pessoa que estava esperando a continuação.
Rebeca Vale, obrigado por ser minha leitora. É uma honra escrever para você.
Espero que encontre o carrinho do seu filho no Salão.
Olha como eu era mesquinho.
Fazer um intercâmbio
Esse vai ter que ficar pro Ano 6 Depois da Lista. Vem aí.
Conseguir um diploma
Olha como meus objetivos eram vagos. Eu escrevi essa lista quase no meio-pro-final de 2019 e eu ainda não sabia o que ia cursar, considerando que eu já estava no terceiro ano do ensino médio.
Tenho que dar todo o crédito da minha faculdade à Pandemia, que me forçou a fazer três períodos em casa, trancado no meu quarto. Como eu não tinha absolutamente nada pra fazer, eu realmente me empenhei nos primeiros três períodos. Do quarto em diante eu improvisei.
Depois de duas crises de relação interpessoal, uma matéria trancada e ter chamado uma menina de puta no grupo da sala, eu consegui.
E modéstia à parte, me saí bem.

Eu nem me considero um jornalista. Eu tenho um papel que diz isso e quatro anos de professores falando que eu sou bom no que faço, apesar de eu não fazer muita coisa. Atualmente, a coisa mais jornalística que eu faço é escrever bobagem uma vez por semana e postar aqui. E isso eu faço bem, obrigado.

Aprimorar meu físico para ter um corpo bonito
Não consegui. Eu não usei meu tempo na pandemia para NADA de útil. Eu já entrei e saí da academia no mínimo umas sete vezes. Quem sabe ano que vem.
Meu problema não é malhar, meu problema é comer. Na verdade, nem comer, é ter que fazer a comida pra mim. Se não fizerem, eu não vou fazer e eventualmente me alimentar de qualquer coisa que eu achar na minha cozinha. Tipo miojo de galinha caipira e panetone (por tempo determinado).
Fazer terapia
Eu fiz duas vezes. Odiei.
A segunda vez eu até gostava de fazer, mas senti que a Dra. Psicóloga passava muito a mão na minha cabeça, mesmo sabendo que eu sabia que estava errado (o que é raro, porque eu sempre estou certo). Essa tratativa me deixou com medo de endossar algo que não precisava ser endossado: o meu comportamento tóxico de sempre achar que eu estou certo, o que eu estou.
E a primeira disse que eu era igual ao meu pai. Fiquei irritado e nunca mais paguei.
Redecorar meu quarto
Eu acho que inventei esse objetivo enquanto escrevia esse texto só para eu ter uma vitória a mais. Eu adoro trocar os móveis do meu quarto de lugar e me dar mais trabalho.
Eu consegui.
E com isso, encerro minha humilde lista de metas fracassadas com a consciência tranquila. A conclusão? Eu sou excelente em criar objetivos e péssimo em cumpri-los. Mas, sinceramente, quem não é?
Se alguém, em 2019, tivesse me contado que eu, em 2024, ainda estaria escrevendo bobagens, reclamando da vida e me autodepreciando por esporte, eu teria ficado surpreso? Nem um pouco. E apesar de todos os fracassos, até que eu não estou tão mal. A vida é assim mesmo, cheia de listas não concluídas e vitórias meio tortas.
O importante é reconhecer que a vida é uma sequência de “ano que vem eu faço”, e, sinceramente, tem alguma coisa mais humana que isso?
Eu continuo aqui, firme e forte, frustrando o Gustô de 17 anos.
Até a próxima semana, ou quem sabe ano que vem.
Sugestã o de Música
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criei essa coluna pra alimentar um hobbie. Não me siga nas redes sociais que por acaso é @ogustoalves.
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