Dream of the Endless /@hyo_wx

Devaneio: tem um perpétuo morando na minha cabeça.

Gustô Alves, nesta realidade, devaneia e pondera sobre devaneios.

Se o Neil Gaiman não tivesse escolhido ser mais um escrotinho com diploma de abusador, talvez eu tivesse mergulhado com mais gosto nas histórias dele. Não que eu esteja aqui pra defender homens — já temos podcasts demais pra isso — mas, sejamos justos: o cara era um gênio. Um gênio devidamente copiado, inclusive, pela própria J.K. Rowling. Dois bostas. Gênio plagiado por uma maluca. A cultura pop é sim um sistema de reciclagem.

cuidado tem dois filhos do capeta te olhando

A única obra do Gaiman que eu estudei com algum esmero — e por esmero entenda-se diversos TikToks e uma thread no Twitter — foi Sandman. Na trama, ele nos apresenta sete conceitos abstratos antropomorfos com crise de identidade,uma típica grande família disfuncional. Em inglês, todos começam com a letra D, uma escolha claramente estética. Já no português, o “Dream” virou “Sonho” — o que é bem sem graça. Eu prefiro chamar de Devaneio. Combina mais com a minha agenda.

Na saga das HQs — e também naquela adaptação da Netflix, que tenta ser dark e cult — o Sonho (Devaneio) é sequestrado por um entusiasta da magia que queria prender o Diabo, mas acaba prendendo o Sonho por anos, basicamente porque não faz a menor ideia do que está lidando.

Mas a série pecou feio no quesito “realismo” — porque o Devaneio não ficou trancado em uma prisão qualquer. Não. Ele ficou preso foi dentro da MINHA CABEÇA. E olha… lá dentro não tem saída de emergência, modéstia a parte.

ele ouvindo todos os absurdos que eu penso

O Devaneio tem um papel imenso no meu cotidiano. Eu passo mais tempo conversando com ele do que com gente viva. E é justamente sobre isso que eu quero falar hoje. Será que me é permitido? Será que a gente ainda deixa um gay falar sobre o que quer? Obrigado.

“Devaneio excessivo” ou “devaneio desadaptado” — é uma condição em que a pessoa vive numa rave interna de pensamentos, passando o dia inteiro viajando na maionese. Isso a ponto de atrapalhar sua vida social, sua produtividade e, às vezes, até sua noção básica de realidade. Ou pelo menos foi isso que eu entendi depois da minha pesquisa avançada de cinco minutos no Google.

Não querendo me autodiagnosticar aqui — longe de mim — eu, um grande entusiasta dos psicoproblemas que a espécie humana, detesto ser aquela pessoa que vive embutindo transtornos mentais nos outros e em mim mesmo; apesar de ser muito bom nisso. Mas negar que passo metade do dia imerso em mundos fictícios ou situações hipotéticas seria uma generosidade tão fora da curva comigo mesmo que beira o cinismo.

Isso não atrapalha meu dia a dia, claro que não — só o torna um pouco mais estressante, menos produtivo, beirando o burnout (outro autodiagnóstico) Porque, a qualquer momento eu estou pensando nos livros e nas histórias que preciso escrever. É legal, é divertido, resolve vários problemas — todos fictícios, todos hipotéticos — e absolutamente nenhum dos problemas reais.

@drjorgesampaio

🤔🩺 Você conhece o termo “Maladaptive Daydream”? Conheca os malefícios dos desvaneios excessivos para o processo de emagrecimento. Maladaptive daydreaming, ou desvaneios excessivos, é quando uma pessoa se perde em fantasias tão intensas que acaba se desconectando da realidade. Isso pode parecer inofensivo, mas, na verdade, pode atrapalhar bastante, especialmente se você está tentando emagrecer. Quando ficamos muito presos nesses devaneios, corremos o risco de fugir dos nossos desafios reais, como a mudança de hábitos alimentares e o foco no emagrecimento. É como se a mente criasse um refúgio, mas isso pode acabar fazendo com que você negligencie o que é importante. Aqui entra a importância de técnicas que ajudam a trazer a mente de volta ao presente. É importante também reconhecer que, sejam positivas ou negativas, essas fantasias podem distorcer a realidade e influenciar suas escolhas de maneira não saudável. A chave é encontrar um equilíbrio. Usar as técnicas de autoprogramação, como as que ofereço aos meus pacientes, pode ajudar a reorientar essas fantasias. Em vez de se perder em cenários imaginários que levam ao comportamento de fuga, você pode treinar a mente para focar em cenários construtivos e no que você pode fazer de concreto para alcançar seus objetivos. #emagrecimento #psicologia #neurociencia

♬ Kiss Me Thru Yo Fingers DoubleJack Transition – DoubleJack

Eu sou igual esse velho 🤓☝️

Minha imaginação fora de controle — funcionamento alternativo da realidade — se divide em dois grandes departamentos: a pseudorrealista e a fictícia. Claro que tudo é mentira, mas na primeira eu estou só encenando versões exageradas da minha própria vida, e não criando histórias mágicas que eu preciso escrever, como aquele velho do vídeo acima.

Em algumas dessas “realidades paralelas”, eu sou influencer cult, em outras sou escritor recluso, ou pai de uma menina chamada Helena (eu não quero ter filhos), professor universitário que cita Foucault (eu não sei filosofia), professor do ensino médio (deus me livre), cirurgião de novela (to vendo mto Grey’s), criminoso (ihhh), padre (há potencia)… a lista é infinita.

E o mais legal é que tudo isso impacta meu humor real. Ontem mesmo fiquei triste porque percebi que nunca serei padre e, portanto, não poderei votar no conclave do Papa. Um sofrimento teológico completamente desnecessário, considerando que tenho 23 anos e, mesmo que milagrosamente me ordenassem amanhã, ainda estaria a uns bons anos de distância da tal elegibilidade cardeal.

Conclave' é o conteúdo mais visto no Prime Video Brasil após morte do papa  Francisco | Cinema | G1
estou sofrendo por não estar lá.

Pra não dizer que o devaneio não atrapalha nada no meu dia a dia, vou confessar: estou lidando com severos problemas de memória . E eu demorei um tempão pra perceber esses lapsos porque… bem, eu esquecia que estava esquecendo. Metalinguagem neural? Plot twist cognitivo? Algo do tipo.

Gosto de dizer que minha cabeça está entupida de memórias falsas e histórias ainda mais falsas, o que obviamente não deixa espaço pra novas e memórias e menos importantes hierarquicamente — tipo o nome da pessoa que acabei de conhecer, a senha da minha porta ou, detalhe crucial, se a informação que me contaram era segredo ou não. Geralmente é.

O cenário ideal pra mim seria saber fazer shifting — aquele hobby pseudocientífico e pseudorreal onde você “muda de realidade” dentro da própria mente e vive em mundos fictícios como se fosse um mochileiro do multiverso emocional.

meta

Meu pai chamaria isso de projeção astral. Eu, mais humilde, chamo de dessassociação mesmo. Quero tentar, claro. Tá em alta, tá bombando no TikTok, e eu sou uma pessoa que valoriza estar por dentro das novidades — não por curiosidade genuína, só fear of missing out mesmo. Não posso perder a chance de sofrer como os outros estão sofrendo, né? Pelo amor.

É isso, eu esqueci o que eu estava escrevendo e eu não vou reler esse texto todo. Beijos!


Sugestão de Música!


Leia mais de Gustôpina: Trend Studio Ghibli IA: você é feio em 2D, mas esse não é nosso maior problema

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