Se você entende qualquer coisa de estereótipos de gays na internet, você já sabe que eu sou apaixonado pela Feiticeira Escarlate, e que não está aberto para debate que ela é a maioral. Mas, no momento, eu tenho uma nova paixão: Agatha Harkness.
Não sei se é a alta quantidade de homossexualidade nessa mulher, ou se é a perigosa quantidade de sarcasmo dela que faz com que eu me identifique com essa personagem, mas Agatha Harkness foi um dos grandes acertos da Marvel nesses últimos anos e eu afirmo com certeza que a ‘Bruxa Púrpura’ veio pra ficar.
Afinal, a Disney não ia pegar uma personagem que se conectou com o público queer (que é a intenção dela há anos) e colocar na geladeira depois de uma série, né? Não estou dizendo que os Estúdios Disney sempre estiveram no seu melhor estado mental, mas jogar fora essa bruxa seria um sintoma notável de “não sabemos o que estamos fazendo”.
E falando em jogar bruxa fora, quatro já foram mandadas para a vala; e eu entendo que manter o cachê da Patti LuPone seja difícil pra produção, tão tendo que fazer efeito de trovão com lona de metal para economizar, mas precisava mesmo matar a Alice Wu-Gulliver?

‘Agatha All Along’, ou ‘Agatha Desde Sempre’ (se você quiser ser descolonial) veio trazendo tudo o que os fãs, que não desistiram da Marvel, estavam pedindo desde o lançamento de Wandavision: O raciocínio.
Todos os lançamentos da produtora, desde a icônica série de 2021, se jogam na Saga do Multiverso que nem batata na terra. As coisas se conectam, mas nem tanto, os núcleos estão muito distantes um do outro, e milhares de termos multiversês são criados a cada obra lançada.
Mas ‘Agatha’ conecta pontas soltas que ficaram no núcleo mais interessante do UCM, o mágico. Wanda Maximoff está morta? Não! (eu tenho fé), Dr. Estranho é a pessoa mais inteligente da magia? Não, temos a Agatha novamente, ou desde sempre (rs). O massacre que Wanda fez em ‘Doutor Estranho no Multiverso da Loucura’ foi realmente necessário? Óbvio.
Vocês acham mesmo que essa mulher não ia matar a família original do William Kaplan e do sei-lá-quem-é-o-Tommy-hoje? O sigilo da Lilia só redirecionou a chacina para outro alvo: os magos misóginos.

Além disso, Agatha Desde Sempre tem mais três acertos que eu consigo pensar aqui de cabeça sem ter que fazer uma listinha extensa, logo eu, que detesto listas.
CGI
Vamos começar falando do uso básico, e gratificante, de CGI. A Marvel volta a apostar em efeitos práticos, maquiagem e cenários reais ao perceberem que é muito mais realista e barato do que enfiar cinco toneladas de computação gráfica para fazer uma roupa de metal. O Caminho das Bruxas é um dos cenários reais mais bonitos já feitos pro núcleo mágico da Marvel, só batendo de frente com o castelo Wundagore.
O envelhecimento na Ali Ahn (Alice Wu-Gulliver) é LINDO, uma maquiagem super bem pensada e bem feita. Os figurinos, a ambientação e até o tarot é super bem pensado. *Chef Kiss.
Elenco
Segundo! Que elenco maravilhoso! Só um palavrão bem falado pode definir o que eu sinto quando eu vejo a química entre essas mulheres (e o Joe Locke, igualmente uma mulher) na tela. Kathryn Hahn, que interpreta Agatha, veio de Wandavision com definitivamente um dos desafios já lançados: carregar nas costas uma série B sobre uma antagonista. Isso não é fácil, mas ainda bem que ela tinha Aubrey Plazza (Rio), Debra Jo Rupp (Sra. Hart) e Patti LuPone (Lilia Calderu) para puxarem essa carruagem que muitos dariam como emperrada a meses.
(Fun fact: Aubrey Plazza morou com Patti LuPone durante os meses de gravação e, Deus, eu não sabia que eu precisava dessa relação até ela acontecer).
A interação disfuncional dessas personagens cria o atrito e caminho necessário para que a série siga numa desconfortável leveza. Cada provação que elas passam no Caminho das Bruxas dura 30 minutos, o que me parece impossível, mas tem algo nos diálogos dela e no comportamento desvario das bruxas que fazem cada episódio durar mais duas horas do que o combinado. E eu estou amando.
Joe Locke dá um show de atuação em praticamente todos os episódios, sendo raiva, confusão, desespero e fan love as emoções mais bem representadas por ele durante a narrativa. O personagem dele, que já sabemos que é o Wiccano, é aquele temperinho a mais que faz a série andar. E que continue assim, porque do elenco de peso, metade morreu.

Às vezes um coven é formado por 3 lésbicas, 1 twink, a Morte e a Patti LuPone
Direção
O terceiro deles (vou ser bem woke agora, se preparem) é a contratação de uma roteirista mulher e uma equipe de direção também feminina. Dessa vez deu certo.
As Marvels, She-Hulk e Viúva-Negra, que também foi roteirizado pela Jac Schaeffer, sofreram fortes críticas negativas do público geral da Marvel, mas longe de mim acusar que o motivo das produções serem bombásticas (no sentido explosivo da coisa mesmo) é devido serem feito por mulheres e sim por causa da transição de público da Marvel.
Ao longo dos anos, o público consumidor de adaptações de quadrinhos eram homens incels, nerdolas e nerdolas incel, nessa ordem. Agora, a Marvel começou a se arriscar com um público mais diverso. E aqui eu uso diverso eu quero dizer °. * ✧ . ✦ GAY ✺ ° ★ . °
O que traz narrativas e personagens diversos, o Teen veio aí com toda a sua homossexualidade e lápis de olho para provocar o homem médio telespectador, mas serviu de grande exemplo para o público LGBT em questão de representatividade: gays feios1 também podem protagonizar grandes produções.

Falando de gays, vamos falar sobre o que interessa?
Agathario
Enquanto Kathryn Hahn vem com a estética middle-age cool gay mom provocando desejos profanos e intenso em jovens sapatonas com mommy issues, Aubrey Plazza vem na contrapartida com lésbica-gótica (ui).
E esse é o casal que o povo espera! Nos quadrinhos, originalmente, a Rio Vidal (recentemente “revelada” ser A Morte) seria par romântico ou do Deadpool ou do finado Thanos, mas eu tenho certeza que até o nerdola mais incel que existe mal pode esperar para essas duas sapatonas se esfregarem no chão do Caminho das Bruxas até elas mesmo conceberem um filho (eu).
E eu digo ‘revelada’ entre aspas porque se a Marvel tivesse feito o curso de Segurança da Informação que eu fiz na Uniglobo, o plot twist sobre a Rio Vidal ser A Morte seria, de fato, um plot twist. Eu tive que fingir surpresa na frente da minha irmã assistindo. Se alguém merece um Emmy pelo show, sou eu.

E aqui eu vou me dar o direito de uma análise rápida, prometo não tomar muito do seu tempo. Permitirias? Em ‘Wandavision’ conseguimos ver que a Agatha e sua mãe, Evanora, não tem uma relação muito boa, eu diria até filicida, já que a bruxa-queca tenta matar a filha lá em 1500-guaraná-de-rolha, durante os Julgamentos das Bruxas em Salém (MA)2.
Agatha repete uma icônica frase no episódio 5, “eu posso ser boa”, e sua mãe rebate, “você nasceu má”. Quando você para pra pensar e analisa esse momento, Agatha pode até estar se referindo ao fato de ser uma bruxa que toma o poder de outras, matando-as no processo. Mas não é isso que Evanora Harkness quer dizer.

Para Evanora, Agatha nasceu má porque nasceu lésbica. Pode ser uma metáfora ou pode estar bem escancarado na nossa cara quando, novamente, a gente se dá o privilégio do raciocínio. Evanora não poderia condenar uma bruxa por usar poderes ocultos, uma vez que esse é o objetivo da bruxaria; e Agatha não nasceu sabendo magia negra, ela mesmo menciona durante seu julgamento que a magia apenas se dobrou ao seu poder e que, “se apenas” a “ensinassem”, ela o controlaria, para não matar suas amigas bruxas ao roubar seus poderes (ou sequer roubá-los).
Então porque Evanora quer matar a filha? Porque ela é lésbica. Simples.
A cultura queer e a bruxaria estão ligadas historicamente, mas vai ser muito complicado eu falar sobre isso porque requer pesquisa e a Carol tá doida pra eu terminar esse texto pra ela poder editar. Fica pra próxima o tópico. [Nota da editora: Não tô, lança a braba]
Agathario, ship das duas personagens mais aclamadas dessa série, é o que queremos, mas sabemos que não vem aí. O Disney+ tem coragem de colocar dois homens se beijando, mas duas mulheres? Isso seria woke demais para eles. Ah não ser que os produtores sejam do mesmo grupo de incels que de fato gostam de Agatha All Along e coloquem essas duas sapatonas místicas para se pegarem por puro fetichismo. Como todo respeito às sapatonas e, claro, ao fetichismo.
Pra mim, toda torcida é torcida.

E às vezes, temos que concordar, que a narrativa que está sendo seguida não pede por um beijo (eu mesmo não colocaria um lá, não que eu seja parâmetro). elas estão em posição de ódio, e os teasers que constantemente aumenta minha ansiedade levam a um caminho óbvio: O último teste e a batalha final dessas duas.
Para o final dessa série, tudo que eu preciso saber é o que aconteceu com Nicholas Scratch, filho de Agatha (e Rio), e ter certeza que minha Mãe Wanda Maximoff voltará em breve.
Hoje ou amanhã (depende de quando isso for postado) saem os dois últimos episódios de ‘Agatha All Along’ e eu já me considero órfão da magia no UCM visto que não tem nenhum projeto anunciado sobre o tema.
Os Últimos Episódios
Estou de volta, menos são do que nunca. Fiquei esperando pelos últimos episódios da série, igual criança esperando o Natal, a ansiedade numa mão e um pedaço de chocotone na outra. Arranquei todas as minhas unhas, meu cabelo caiu, eu morri e reencarnei tal qual Billy Kaplan para assistir esse evento.
E devo admitir, eu amei, mas não era o final que eu esperava, era o final óbvio da série. Vamos admitir que estava claro que o Caminho não existia. O personagem de Joe Locke criar um dimensão metafísica de bolso que muda as folhas do chão e os outfits das bruxas de acordo com o desafio? Não tem nada mais gay boy que um trabalho como esse. Ele estava servindo direção de arte.

E a direção de arte da série, como já mencionado, é um espetáculo em contrapartida da direção criativa. A última coisa que eu imaginava da luta final da Rio e da Agatha era a Morte arremessar uma pia na ex-esposa; mas tudo bem, vou deixar isso passar, só dessa vez. A Bruxaria, a magia mesmo, fica pra próxima produção.
Mas a beleza desses dois últimos episódios é incontestável, a poesia que escorre dessas cenas é de encher o olho de lágrima. O sacrifício da Agatha, o beijo da morte sendo o primeiro beijo sáfico do MCU, a morte da Agatha logo após (casais lésbicos não tem paz), o William de luto indo embora no seu carrinho, TUDO isso foi lindo.
A Rio abandonando seu rosto humano que Agatha tinha se apaixonado porque ela não o veria mais. To chorando até agora.
Fortes críticas foram tecidas em relação ao último episódio, mas eu vou contra todas as opiniões e dizer que eu amei. O final mega intimista, nos mostrando que Agatha sempre foi má, mas durantes seis anos da sua vida ela foi má com motivo. E fazendo as contas, considerando que no único dia que não mataram bruxas, o Nicky morreu com seus seis anos de idade, Agatha deve ter matado pelo menos 2.190 bruxas. Isso sim é amor de mãe.
Infelizmente, seguindo a fidelidade dos quadrinhos, logo teremos que nos despedir de Kathryn Hahn, uma que Agatha é um fantasma agora. A expectativa é que a bruxa, futuramente, tome posse de um novo corpo mais jovem e será o fim para as sapatonas com mommy issues.
A próxima produção da Marvel que envolve o núcleo da família Maximoff é VISION QUEST (ou só Vision, ainda estão fazendo o brainstorm do nome) e está marcada para 2026. Enquanto isso, vamos nos contentar com bombados de collant e divos espaciais.
Sugestão de Música
Deixar esse hit aqui. Ajude a proteger a falecida Alice Wu-Gulliver