Fernanda Torres, minha gente, levou o Globo de Ouro de melhor atriz, e com isso provou que talento de verdade deixa qualquer Barbie loira de escanteio. Salvo, é claro, a divina Tilda Swinton, que é super bem vinda aqui na 📍 Bola do Coroado – Manaus, AM. Já marquei meu café da tarde com a ex-monarca de Nárnia, mas enquanto o barco dela não chega, vou ocupando meu tempo com uma lista de sugestões geniais para as grandes premiações internacionais.
Cannes, Emmy, Globo de Ouro, Oscar… Só os básicos, né? Mas quem precisa de categorias gringas quando temos produções que destilam o puro creme do orgulho brasileiro? Confesse, é garantido que, se botarem uma diva brasileira em cada premiação do audiovisual, o Hexa vem antes da próxima Copa. Até porque o talento do brasileiro é tão revolucionário que, daqui a dez anos, os gringos vão estar assistindo Avenida Brasil no repeat enquanto pedem pão na chapa no Starbucks.
Já ficou bem óbvio que minha influência nas grandes premiações, né? Então, para não deixar dúvidas, vou deixar aqui mais premiados que devem estar recebendo suas estatuetas em até uma semana, dependendo do valor do frete que eu encontrar. Apresento-lhes os vencedores brasileiros do Prêmio Gustopina, uma premiação tão lendária que até os Oscars estão morrendo de inveja. Angelina Jolie, não vai ter pra você, pode tirar esse brilho do olho aí.
Mas vamos ao que interessa antes que eu comece a bocejar com as piadas recicladas desse pessoal por aí.


Os Normais
Olha, sou completamente suspeito pra falar, mas nem precisa ser gênio pra concordar comigo: Os Normais é o verdadeiro clássico brasileiro. Uma comédia tão afiada que faz Friends e How I Met Your Mother parecerem ensaios de peça escolar. Enquanto os gringos gastam dez temporadas tentando arrancar meia risada forçada, Rui e Vani resolvem em um único episódio o que eles nunca alcançariam em suas carreiras inteiras: química, timing e aquele caos que só o brasileiro entende. Sinceramente, eles podiam até aprender português só pra assistir com a legenda desligada, mas duvido que fossem capazes de captar a genialidade.
“A Gustô, mas você nem viu esse” E precisa? Nem a própria Academia tá vendo o que coloca na disputa! Olha o absurdo: botaram Emília Perez como melhor filme de língua estrangeira porque viram a Selena Gomez estampada na capa e não podiam fazer a desfeita com selenator. Foi pura pressão de fã-clube. Escolheram o vencedor de olho fechado e, sinceramente, cagaram na estratégia: eles deviam temer muito mais o brasileiro do que fã de diva pop. E eu tô sendo bem solidário chamando a Selena de diva pop. Só aquele espanhol porco dela deveria remover a querida da categoria.
Mas pra alguém que tá quase casada por conta de dívida de jogo, eu não vou cobrar muito.
E nem precisa assistir ‘Os Normais’ inteiro pra reconhecer a grandiosidade dessa obra-prima. É só pegar ali umas 3 ou 5 cenas mais icônicas – aquele compilado básico que todo brasileiro já viu – e pronto: tá explicado por que esse seriado é a comédia. Não tem enrolação, não tem plot desnecessário. É direto ao ponto e tão bom que só as melhores produções conseguem: brilhar em trechos avulsos. Enquanto isso, as séries gringas precisam de temporadas inteiras pra fazer sentido. Pobres mortais.
É o epicentro da comédia, do besteirol e do puro genialismo. ‘Os Normais’ é aquela sitcom de 2001 que, mais de vinte anos depois, ainda tem cortes que resumem perfeitamente nossos dramas e absurdos cotidianos. Quem nunca viu um trecho e pensou: “sou eu todinho”? É atemporal, meu povo. Se uma obra dessas não merece o Gustô de Ouro, sinceramente, podem encerrar a premiação e mandar estatueta pra TikToker fazendo dancinha, porque o mundo perdeu o rumo mesmo.
Por acaso a Fernanda Torres está em ‘Os Normais’? Sim. Por acaso eu estou completamente obcecado por Fernanda Torres? Estou. Mas uma coisa não tem absolutamente nada a ver com a outra. Sou um profissional renomado, com critérios altamente objetivos, favor respeitar.
Se eu fosse premiar tudo que leva o nome dessa mulher, até Tapas e Beijos já estaria aqui com uma estatueta reluzente. E adivinha? Eu vou premiar também. Porque talento é talento, e o resto é só elenco de apoio.
Tapas & Beijos
Ah, não, nem tenta vir com essa. Você já assistiu ‘Tapas & Beijos’? Pois eu já. Aliás, neste exato momento, estou aqui, hipnotizado, assistindo a Fátima e o Armani se agarrando, tô até constrangido. Mas não pense que esse amor pelo seriado é algo recente. Isso aqui é relacionamento de longa data! Pra você ter uma ideia, meu grupo de amigos já se chama “E aí Sueli, tá na área?” há anos. Isso não é amor de fã, é um casamento estável e duradouro.
‘Tapas & Beijos’ é o ápice do Brasil. É canalhice, é amor, é gambiarra experimental com selo de qualidade. Nem tínhamos a palavra “gambiarra” oficialmente em 2011, mas já sabíamos que aquilo era uma obra de arte disfarçada de improviso. Eu acabei de [re]passar pelo episódio onde o Djalma, dono da loja de noivas, tem uma crise de identidade ao descobrir que o pai era gay. E em 2011, na televisão aberta, com toda aquela coragem cômica, a gente teria algo tão subversivo. Foi quase uma revolução cultural e, até hoje, é mais ousado que qualquer novela das 9 que tente ser “moderninha”.
Hoje, a Globo está tão liberal que, se fosse nos dias de hoje, nem precisaria discutir o que quer que seja, porque é tão comum, tão banal, que fica até sem graça. Mas, ao mesmo tempo, ela é tão conservadora que jamais colocaria esse tipo de debate em horário nobre na TV. Na conjuntura atual, se depender do estúdio, esse tipo de discussão nem passaria nem nos bastidores. A Globo virou aquele parente que te manda mensagem do WhatsApp com um emoji de “ok”, mas, no fundo, ainda acha que é radical demais se alguém falar de política no almoço de domingo.
Tem piada de gordo, de gay, de mulher, de estrangeiro… Tem TUDO o que o Twitter odeia, mas adivinha? O Twitter ama! Como é que pode, né? O Twitter como ferramenta de qualidade moral aqui.
O seriado protagonizado por Fátima e Sueli tem a consistência de um dorama… mas de comédia. Agora, se você nunca viu um dorama, espero que continue assim, porque é uma experiência que é praticamente um “não volte jamais”. Mas, para você entender o nível de confusão, deixa eu te dar um contexto: num dorama, com uma duração de 1h a 1h30, acontece de TUDO. A protagonista morre, ressuscita, vira CEO, casa, tem filho e ainda passa uma temporada no exterior, tudo isso sem respirar, um episódio só! ‘Tapas & Beijos’? É a mesma coisa, só que em trinta minutos de pura energia condensada e sem a necessidade de um episódio filler. Aqui, o ritmo é de quem não tem tempo a perder.
E é aí que está a magia. Você já está tão investido nas cinquenta coisas que aconteceram que, de repente, entra a Joelma cantando a abertura da série e você só pensa: “Ok, agora começamos.” Porque não é só uma abertura, é um momento transcendental. E aí você se perde no tempo, assistindo e assistindo, sem nem perceber. Esse fim de semana, por exemplo, eu vi meia temporada com minha amiga e nem senti o tempo passar.
Mas o fandom de Tapas & Beijos faz uma tremenda injustiça com a Andréa Beltrão, nossa querida “Saeli”. Onde está o reconhecimento, o amor, o carinho que eles têm pela Fernanda Torres? Sueli é uma GRANDE personagem, minha gente! Ela é hilária, direta, e a verdadeira voz da razão nesse seriado. Enquanto todo mundo se perde nos momentos caóticos da Fátima, a Sueli está lá, tentando manter um pouco de ordem e coerência nesse meio de surto coletivo. E sem ela, ‘Tapas & Beijos’ não teria nem metade da graça. Mas, claro, o pessoal adora uma diva, e a Andrea Beltrão fica aqui, só na espera do seu momento de glória.
Então, esse prêmio vai exclusivamente para a Andrea Beltrão, que, caso esteja lendo isso, já pode começar a preparar seu discurso de agradecimento, porque ele vai ser anexado na próxima coluna. Não tem erro. Fica tranquila, Andrea, eu estarei lá na DM, aguardando com toda a pompa e circunstância enquanto você manda sua mensagem de gratidão. Muito obrigado, querida, por ‘Tapas & Beijos.’
Girls in The House
Esse não tem a Fernanda Torres, mas deveria. E eu não duvido que já já ela aparece pra fazer uma aparição especial.
‘Girls in The House’ vai para o outro lado do Brasil, aquele que ‘Os Normais’ e ‘Tapas & Beijos’ jamais alcançam: a pura maluquice. E olha, a genialidade dessa animação (se é que dá pra chamar de animação, porque é uma experiência transcendental) é um ultraje absurdo. É a série que te ensina a ser humilde, porque você vai achando que vai encontrar algo “normal”, e ela aponta o dedo na sua cara e te mostra uma maluquice fantasiada de roteiro. A genialidade está no fato de que, no final, você não sabe mais quem é você, quem é o roteirista e quem está realmente no controle da realidade. É o ápice do surrealismo com uma pitada de deboche.
O único problema de ‘Girls in The House’ é a demora espetacular para lançar novos episódios. Agora, não vou ficar aqui medindo o tempo que leva para fazer um capítulo no The Sims 4, mas, meu amigo, QUATRO anos para uma temporada? Sério? Isso já está indo além do razoável. Só estou dizendo, não é nada pessoal, mas até o tempo de maturação de um vinho raro parece mais rápido que isso.
Mas pela excepcionalidade da obra, vale a pena esperar. Então, Raony Phillips, tome seu prêmio e vai trabalhar! Porque, no fim das contas, quando o resultado é esse nível de maluquice e genialidade, a espera até faz sentido. Só não vamos demorar mais 4 anos para a próxima temporada, ok? Senão, a gente vai ter que começar a enviar cartas pedindo para fazer parte do roteiro, só para ganhar algum tempo útil.
Gabriela (Minissérie)
Aqui nasceu o romance. Essa eu assisti mais recentemente e consegui gostar e odiar ao mesmo tempo. E para mim só é bom assim. Se for para eu abrir uma produção e sentir uma unidade de sentimento só, nem me dou ao trabalho. ‘Gabriela’, como boa minissérie, sabe nos levar para esse dilema existencial de gostar de algo com toda a intensidade e, ao mesmo tempo, querer tacar a TV pela janela. Essa é a verdadeira arte!
A produção é excelente, a caracterização é impecável, e o Brasil tem um currículo invejável quando o assunto é fazer comédias, filmes biográficos e novelas de época. Agora, Gwyneth Paltrow ganhou um Oscar por se vestir bonitinha e fazer a interpretação que, para a gente, é só uma terça-feira comum no Vale a Pena Ver De Novo. Aqui, se a gente pegar a Fernanda Torres de cabelo preso e um vestido de chita, já resolve o mesmo papel, e ainda ganha um “Muito Bem!” da crítica.

A coisa mais irritante e interessante em Gabriela é o Coronel Jesuíno, um personagem tão complexo e ao mesmo tempo simples que me deixou com raiva do ator (deus o tenha, fui pesquisar o nome dele e, spoiler: já se foi, o bichin). O Coronel Jesuíno é, basicamente, o molho do homem conservador em plena época onde ele podia ser conservador em paz, sem ninguém levantar uma sobrancelha. Ele tem direito de fazer tudo o que quer, incluindo usar terno nos 40 graus e matar a esposa.
Pra mim é isso que conservador quer, tudo o que ele precisa para ser feliz é seguir a cartilha da “moralidade” e viver como se o século 21 nem tivesse chegado. Coronel Jesuíno um dos personagens mais marcantes da minissérie. Mas não me responsabilizo por qualquer ódio direcionado ao ator, viu? Ele já cumpriu sua missão.
Gabriela é uma obra complexa, você precisa se desprender tanto do atual para conseguir aproveitar sem pegar fogo de ódio por dentro. Porque, olha, eu queria me matar TODA VEZ que o Coronel Jesuíno falava “Eu vou lhe usar.” Sei que os homens naquela época não eram exatamente os mais dóceis, mas, onde diabos foi parar o romantismo? Onde estava a paixão, o mínimo de dignidade humana? Mas não, velho filho da puta, não, ele estava mais preocupado em ser uma caricatura do “macho alfa”.
Fora a homofobia, misoginia e todos os preconceitos dos personagens, que são a cara da Bahia de 1920, tudo isso pode ser amenizado por um sotaque proto-baiano com a entonação de pessoas que praticamente cantam para falar. É daí que os gringos tiraram aquele conceito de “sotaque musical” que adoram tanto, tenho certeza.
E tem muita coisa, antiga e atual, que o Brasil fez que o MUNDO precisa ver. Todo mundo fala da internet brasileira, mas ninguém tá falando da dramaturgia – bom, tão falando agora.
Sai de Baixo, Vai que Cola, Avenida Brasil, Chocolate com Pimenta, Os Outros, Ilhados com a Sogra, Hilda Furacão, A Praça É Nossa, Presença de Anitta, Casos de Família, Hoje Eu Quero Voltar Sozinho, Gonzaga: De Pai pra Filho, Central do Brasil, Toma Lá Dá Cá, Ainda Estou Aqui, Que Horas Ela Volta, Verdades Secretas, Minha Mãe É Uma Peça, O Outro Lado Do Paraíso, O Clone, Caminhos das Índias, Salve Jorge, A Viagem, Youtube: O Filme, Se Eu Fosse Você, Até Que A Sorte Nos Separe, Minha Vida em Marte, Tropa de Elite, Cidade de Deus, Carandiru, O Homem Que Copiava, To Ryca! e uma infinidade mais de produções.
No fim, o que fica claro é que, por mais que a gente ria, critique e se revolte, essas produções são pedaços de história que nos ajudam a refletir. De ‘Os Normais’ a ‘Gabriela’, o Brasil tem uma capacidade única de fazer comédia e drama ao mesmo tempo, e, em alguns casos, até fazer os dois de forma tão absurdamente exagerada que a gente não sabe se ama ou odeia.
Como diz a nossa premiada Fernanda Torres:
Somos super interessados em nós mesmos e temos pena do mundo não saber o que a gente sabe.
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