A cobrança, a ânsia e a constância de criar. Um relato.

Gustô Alves, cansado e melancólico, conta sobre a pressão de criar e o desejo pela fama. Coitado.

Por favor não me cobrem textos quando eu não publico. Eu me sinto famoso e isso não faz bem por meu ego.

Imagine ser artista: algo genioso. É incrível, tipo descobrir um talento nato que você nem sabia que tava ali, um super poder: a capacidade de escrita da Sylvia Plath, arrotar o alfabeto ou tirar foto bonita — não que eu tenha a capacidade de escrita dela. Mas a melancolia?…

Nós divas talentosas e tristes.

É um esforço ingrato, mal visto, exageradamente cobrado. O talento tem esse chama da cobrança, das mãos oferecendo dois reais e uma bala ansiando conteúdo novo — quem me dera alguém tivesse me oferecendo dinheiro para escrever, ou uma bala.

Você ser esforça para agradar, mergulha no hobby — que virou trabalho — e luta contra a própria mente para lançar algo bom toda semana. Você sobe, sobe, sobe e cai. E nessa queda, isolado no mar da sua consciência, que você se perde. Um náufrago do próprio talento. Isso é o hiatus.

Hiatus — ou “hiato”, porque estrangeirismo é pra quem não domina o português — é quando um artista desaparece do mapa, geralmente após lançar algo. Pode ser um álbum, um livro, um show de marionetes, ou uma mega tour, tanto faz. Ele desaparece e os fãs enlouquecem, famintos por mais entretenimento, mesmo que algo fresco esteja na mesa.

Eu, Gustô (oi!), sou fã de Jão. Às vezes eu mesmo acho a palavra ‘fã’ muito forte, mas eu gosto muito e consumo muito o que ele faz. Esse ano — após um mega show de uma mega turnê e um documentário que eu não assisti — ele anunciou a pausa na sua carreira. Ele tá a 10 anos produzindo, cantando e namorando e só agora que ele deu ao fãs o que queriam, ele some.

Eu acho chiquismo. Mal posso esperar pra ser minha vez.

E, diferente do fandom (os lobos) que estão até agora em abstinência do Jão, corroendo qualquer outro artista semelhante para produzir o mínimo de serotonina no cérebro; eu não sinto falta. O que seria problema pra ele se eu fosse alguém importante e se eu sentisse falta de qualquer coisa no geral. Eu não sinto saudades, nem de pessoas que eu amo. Eu não sei porque eu sou assim e isso é problema da minha analista, não meu.

como vocês podem ver o nicolas está com saudades do jão

O que me incomoda não é a saudades, é a cobrança. E além das poucas pessoas me cobrando — o que já é muito — existe alguém me cobrando mais ainda. Eu. (uau, que plot twist). Eu não consigo me dar o direito ao hiato, à pausa e ao ócio, mesmo eles sendo super necessários para o meu processo criativo.

E quando eu falo em ócio, eu falo sobre o não-pensar. Você pode pensar que eu passo uma semana sem postar texto maturando ideias, planejando piadas e refinando parágrafos já prontos e é aí que você se engana porque você é um ótario. Quando eu não posto texto, eu passo uma semana dentro da minha própria cabeça gritando.

E é assim que eu sei que, mesmo querendo os holofotes, eu não estou pronto para a fama. Deus me fez assim, fazer o que? Se eu tivesse a mente sã, eu seria invencível. Se eu conseguisse produzir conteúdo da forma que eu desejo, eu estaria muito bem — muito feliz e, se sucedido, rico.

Mas a fama, a riqueza e a arte vêm com um combo e a atenção está nele. Eu não consigo imaginar alguém como eu tendo a vida analisada em detalhes, cada frase passada em crivo de crítico meia boca. Isso vindo de alguém que escuta álbuns por hobby para dar a opinião na internet, e mesmo assim não consegui falar nada negativo — mesmo querendo — por medo de fandom. Meu sonho é ser a Carol Prado.

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E eu já tenho o mínimo de fama que alguém pode ter. Já é tenso quando duas pessoas e meia leem meus textos e me mandam “oi, amo o que você faz”. Aí eu penso: “Quem é você? O que quer de mim?” . Eu enlouqueço e a Carol, diz: “Você precisa se acostumar com as pessoas te pertubando na dm”.

Não me entenda mal, eu quero ser conhecido. Quero que meus textos circulem nas estantes, que leitores devorem cada página e suspirem nos cinemas ao verem minhas palavras ganhando vida. Mas “fama”? Assustadora. Vender milhões? Sim. Ter meu nome no “jurídico” do Twitter de alguém? Não ouso desejar.

Ser artista é sustentar um cabo de guerra entre o desejo de reconhecimento e o pânico de se tornar uma figura pública demais. É saber que cada like pode inflar a vaidade ou te esmagar sob o peso da cobrança. Se você pensa que glamour é só tapete vermelho, reveja o conceito: tem drama, suor frio, crises existenciais e noites em claro — menos pra mim, que jamais sacrificaria meu sono.

Criar é brutal — desgaste físico, mental e emocional. Só de pensar em assinar contrato para fornecer conteúdo quinzenal eu reviro os olhos. Minha sorte é que, por ora, ninguém me paga para escrever. Mas, se um dia aparecer esse contrato, talvez eu considere vender a alma. Vai ser divertido.

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pelo menos o texto da semana que vem já está em produção.

Eu me perdi um pouco nesse texto. Acontece.

Vejo vocês semana que vem, se tiver texto. Senão, considere uma semana de folga pro autos.


Conheça minha outra coluna

Sim eu to reclamando da pressão de escrever e aí eu fiz OUTRA newsletter. (que não está no Modo Hype). Eu nunca disse que eu era coerente.

A Às Vezes Penso Coisas é pra ser diferente da Opiniões e Relatos que Ninguém Ouviu. É pra ser mais sincero, intimista e despretensioso; e bastante malancólico. Lá os textos vão ter frequência aleatória e menores.

Espero que gostem.


Sugestão de Música!

Me sinto assim…


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