Abracadabra! ‘Gagacabana’ mudou minha química cerebral

Minha relação com diva pop nunca foi exatamente a mais emblemática de um homem gay cis branco, nada do que se espera da nossa espécie. Especialmente quando o assunto é Lady Gaga. Quando ela lançou ‘The Fame’, em 2008, eu tinha apenas seis anos e praticamente nenhum acesso à cultura pop. Eu estava muito ocupado ganhando um pai, cada um com suas prioridades.

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Em 2009, ela vem com ‘The Fame Monster’ e, adivinha? Continuava não prestando atenção no mundo das celebridades. Me faltava uma ‘Caras’, uma ‘Capricho’… Eu era um nerdzinho leitor assíduo da ‘Superinteressante’ e da ‘Mundo Estranho’. As minhas divas eram redatores esquisitos e teorias da conspiração.

Perdi também o ‘Born This Way’, em 2011, enquanto voltava pra Manaus depois de um ano solitário em Juiz de Fora. Nessa época, meu companheiro mais fiel era um MP3. Eu finalmente comecei a ouvir as músicas dos dois álbuns anteriores, baixando os hits no 4Shared. E, honestamente, eu achava que a Lady Gaga era uma senhora de idade. Juro. Talvez pela associação tosca de Gaga com Gagá, ou pela magreza sombria dela em Alejandro, que me parecia coisa de idosa bulímica. Vai entender.

Alguém alimenta a querida.

Mas ‘Alejandro’ mexeu comigo — da mesma forma que Criminal da Britney mexeu comigo (esse texto não é sobre você, Britney, mas fica o beijo). Eu via aquele clipe, aqueles homens deliciosos sendo sarrados pela Mother Monster, e pensava: “Nossa. Queria ser um deles.” Isso aos nove, dez anos. Uma bichinha precoce, enrustida, mas já com bom gosto.

Aqui eu sentia coisas.

Quando eu me entendi como uma xixinha legítima, em 2013, aos 11 anos, Gaga lançou ‘ARTPOP’. Obcequei por ‘G.U.Y.’, claro. Pensei: “Agora vai, vou acompanhar essa mulher.” E aí? E aí que ela resolveu ficar normal. Cadê o vestido de carne, os looks bizarros, a vibe alienígena? Nada. Ela foi e me virou uma cantora séria. Joanne é lindíssimo (eu imagino, nunca ouvi), mas eu queria o bizarro. Eu queria o freak. Eu queria um espelho. E aí meio que larguei a mamãe Gaga e fui me refugiar nas rádios pop da vida.

Sempre digo que meu gosto musical se formou de verdade em 2015, 2016. Melanie Martinez, Troye Sivan, e depois Billie Eilish. Não tenho o paladar refinado das gays cultas que veneram Ariana, Rihanna, Lana Del Rey (isso é pop?), etc. Eu era feliz na ignorância.

Mas sábado, dia 3 de maio de 2025, minha vida mudou. A Gaga voltou a ser esquisita e no Brasil.

Gagacabana | Mayhem at the beach

Eu nem sei por onde começar a explicar o que senti. Não fui ao Rio, obviamente — alguém tinha que cuidar da minha terrinha enquanto os gays faziam êxodo pra Cidade Maravilhosa. Mas vi tudo pela transmissão ao vivo. Tive a experiência do show e a segurança do meu sofá. Vitória minha.

Mesmo sem ser um little monster, eu estava eufórico. Feliz pela Gaga, feliz pelo Brasil, feliz comigo. Fiz escândalo no grupo dos meus irmãos, acusei todos de não me amarem porque ninguém quis ir comigo. Dramalhão? Talvez. Mas com causa.

nossa que mico kkkkk

No fim, consegui minha companhia fraternal e assistimos ao show juntos — não no conforto da minha casa, mas na animação da transmissão ao vivo do Modo Hype, no Casa Dois (obrigado pelo convite! queria um boné!). Foi uma noite de conexão com meus irmãos, nos divertimos e, depois, saímos para comprar hambúrguer. Noite perfeita. Seria ainda melhor se eu tivesse beijado alguém, mas não sou uma pessoa de flertar, principalmente quando me sinto meio deslocado entre dezenas de gays padrões ao meu redor.

Porque Gaga, pra mim, sempre representou algo um pouco diferente do que ela representa para muitos LGBTQIAPN+. Enquanto ela é símbolo de aceitação, amor e comunidade pra maioria, pra mim ela encarna criatividade, estranheza, performance, arte. É isso que eu quero, é isso que eu quero ser mais. Se eu tivesse menos depressão e mais tempo livre, seria muito mais esquisito do que sou hoje. Sairia de casa azul. Literalmente azul.

Foi um espetáculo. Um acontecimento. Eu até poderia escrever uma crítica séria sobre esse show, mas ainda tenho que comentar o Met Gala 2025 e Thunderbolts* (que eu nem vi ainda). E eu ainda não consigo pensar logicamente o que foi esse mayhem, eu só sei sentir.

Mas teve um momento específico no show que reconfigurou minha química cerebral. Literalmente. Lady Gaga MUDOU minha cabeça. Fisiologicamente.

“Você acredita em si mesmo? Eu espero que você acredite, todos os dias. Eu nem sempre acreditei em mim mesma. Por muito tempo, não acreditei em mim mesma. E ainda acordo alguns dias e não acredito. Mas vocês têm que acreditar em si todos os dias, se puder. Você precisa tentar.

— Lady Gaga

Para uma pessoa como eu — com baixa autoestima, problemas de confiança, autossabotagem e a sensação de que nunca vai alcançar o que quer, mesmo com sonhos gigantescos — isso foi colossal.

Eu me sinto invencível, como se nada conseguisse me impedir de alcançar todos os meus sonhos e objetivos. Há algo na voz da Gaga, no tom que ela usa, no sentimento empregado. É como se ela estivesse falando comigo — eu, de alma nua, exposto e vulnerável; e ela, acolhedora como uma mãe ou uma velha amiga — ui, me arrepiei aqui.

Não sei explicar. Queria conseguir traduzir em palavras o que isso fez comigo. Aquela fala da Gaga mexeu comigo mais do que qualquer livro de autoajuda ou culto religioso. Claro, não vou parar de duvidar de mim do dia pra noite (acho que isso até faz parte do ‘ ser humano’), mas minha capacidade de prosperar subiu 47,82%. Minha terapeuta devia gradecer a cantora pessoalmente por esse empurrãozinho.

Obrigado, Gaga.

De coração.

Algum gay divo maravilhoso remasterizou o show dela em arquivos de áudio que você pode baixar e escutar no seu Spotify! Eu editei esse texto ouvindo a mamãe. Divirta-se: MAYHEM AT THE BEACH | GAGACABANA

Sugestão de Música!

MAYHEM!


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